Como todas as outras desgraças que se abatem sobre a humanidade, também essas duas só puderam surgir por obra dela própria. Jamais esteve previsto nas determinações do Criador que o ser humano conhecesse privações e penúrias materiais durante sua passagem pela Terra.
Por isso, quem voluntariamente se priva de alimento ou rejeita bens materiais, na ilusão de assim progredir espiritualmente ou mesmo de agradar a Deus, age contra a Vontade Dele, isto é, peca e se sobrecarrega com uma grave culpa. É preciso ser realmente muito arrogante, vaidoso e presunçoso, e também especialmente tolo, para imaginar que o Criador de Todos os Mundos possa interessar-se, ou até alegrar-se, pelo fato de um ser humano não cuidar de seu corpo como deveria. Jejuns piedosos e votos de pobreza nada mais são do que testemunhos de estupidez e vaidade ilimitadas.
Mas deixemos de lado essas tolices e examinemos a fome e a miséria quando se abatem como pragas apocalípticas (que de fato são) sobre povos inteiros.
Como todos os outros sinais do Juízo, também este não desperta mais do que uns poucos comentários de lamento e de desagrado durante os noticiários televisivos noturnos. Cenas de mães e filhos esquálidos, envoltos em trapos e rodeados de moscas, já se tornaram comuns e não chocam tanto. Às vezes, um ou outro artista lança uma campanha para se angariar fundos de ajuda, com o objetivo de amainar aquele sofrimento todo, mas logo depois tudo já está esquecido. Passam-se alguns meses e repetem-se as mesmas cenas, em alguma outra parte do mundo; as pessoas fazem os mesmos comentários de desaprovação, para esquecerem tudo novamente poucos dias depois.
Quem, realmente, se pergunta pela causa verdadeira da fome e da miséria no mundo, que cresce a olhos vistos?
Sociólogos, antropólogos e economistas têm-se debruçado sobre a questão há décadas, sem estabelecerem um consenso sobre as causas desses males e, menos ainda, como é notório, em relação às providências para sua erradicação.
Esses estudiosos chegaram a algumas conclusões que podem ser classificadas como diagnósticos parciais do problema. Nesse sentido, os trabalhos até agora desenvolvidos têm de fato uma importância bastante grande, já que nos permitem visualizar com maior clareza os efeitos terrenos do atuar errado da criatura humana. Contudo, também eles não apontam as causas reais da fome e da miséria no mundo.
No ano de 1798, o economista inglês Thomas Malthus publicou uma obra intitulada Ensaio Sobre o Princípio da População. Nesse trabalho, Malthus afirmava que a produção de alimentos no mundo crescia em progressão aritmética, enquanto que a população crescia em progressão geométrica. A consequência inevitável dessa desproporção seria pobreza crescente e fome permanente. Quando essa situação chega a extremos, a própria natureza interviria, por meio de pestes, epidemias e guerras, restabelecendo o equilíbrio. Essa é a razão, segundo os adeptos do malthusianismo, de a fome e a miséria ainda não terem atingido integralmente todos os povos da Terra.
No que essa teoria está certa, e no que ela está errada?
Quando Malthus lançou o seu ensaio, havia cerca de um bilhão de pessoas vivendo na Terra. Passados 150 anos, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo havia ganho outro bilhão de habitantes. No início de 1992 a população mundial já atingia 5,5 bilhões de pessoas, num ritmo de crescimento de um bilhão de pessoas (quase uma China) por década.
Malthus, portanto, estava certo sobre a velocidade do crescimento da população mundial. Seu erro, porém, foi considerar essa taxa de crescimento como um parâmetro normal da natureza, isto é, apenas constatar, considerando como natural, a velocidade do crescimento populacional.
Nunca esteve previsto, de maneira alguma, que a Terra tivesse de abrigar uma tal quantidade de criaturas humanas, muito menos ainda que o ritmo de crescimento populacional fosse o que atualmente se verifica. (1)
Para não errar de antemão em qualquer análise dos problemas que cercam a vida de hoje, o pesquisador precisa partir de dois princípios básicos:
As Leis que governam a Criação são perfeitas, porque foram instituídas pelo Criador.
Por serem perfeitas, os efeitos dessas Leis, quando se as compreende corretamente e se vive de acordo com elas, só podem ser benéficos. Jamais darão ensejo a algo insano, como desequilíbrios, injustiças e arbitrariedades.
O ser humano age segundo o seu livre-arbítrio.
É característica própria do espírito humano a possibilidade de atuar segundo sua própria vontade. Se, voluntariamente, direcionar essa sua vontade pessoal segundo o que estipula as Leis perfeitas da Criação, então não poderá receber outra coisa senão alegria e felicidade. Mas, se ao contrário, apesar de todos os auxílios e advertências, insistir em dirigi-la em sentido diferente do preconizado por essas mesmas Leis, só poderá encontrar dor, sofrimento e destruição. Destruição automática de suas obras erradas e, por fim, destruição dele próprio, como um elemento nocivo na Criação, caso não mude em tempo a direção que dá à sua vontade, ao seu livre-arbítrio.
Com base nesses dois princípios básicos, podemos afirmar com segurança que a explosão populacional não é um acontecimento natural, sadio, mas sim fruto de alguma atuação errada da humanidade, já que se trata de um desequilíbrio.
Qual seria então a causa do crescimento vertiginoso do número de habitantes sobre a Terra?
Em primeiro lugar, foram as já mencionadas repetidas reencarnações terrenas, decorrência da decadência espiritual das criaturas humanas, que cada vez mais se tornavam escravas do seu intelecto, só vendo valor nas coisas materiais. Como não podiam mais ascender a outros planos após um certo número de reencarnações, elas continuaram a voltar sempre de novo aqui para a matéria grosseira, e a Terra foi se enchendo cada vez mais.
Além disso, com a decadência progressiva, tornou-se possível que almas cada vez piores pudessem se encarnar na Terra. Tratavam-se de espíritos muito decaídos, que viviam em mundos do além situados muito abaixo da Terra. Através de pontes lançadas pelo mau querer dos seres humanos terrenos, esses espíritos decaídos puderam subir até aqui e se encarnaram, algo que absolutamente não estava previsto para eles. Assim, chegou-se hoje à situação em que a maior parte dos habitantes do planeta sequer pertencem de fato à Terra. Vivem aqui agora, causando danos, por culpa da própria humanidade que foi ao encontro deles e lhes estendeu a mão. É essa também uma das razões do aumento da criminalidade. Maior número de pessoas más, maior quantidade de ações más.
Mas voltemos a Malthus. Como ele apenas constatou o ritmo vertiginoso de crescimento populacional, considerando-o natural, supôs que a natureza se encarregaria de manter o equilíbrio através de doenças e fome, eliminando dessa forma o excesso de pessoas. Tal efeito, no entanto, seria um ato arbitrário da natureza, se o crescimento acelerado da população fosse realmente “normal”. Pois, dessa forma, pessoas inocentes teriam de passar necessidades e morrer para que outras sobrevivessem.
Porém, como as Leis da Criação são perfeitas, fica excluída completamente a possibilidade de uma injustiça qualquer. A fome e a miséria que assolam hoje o mundo são apenas o efeito retroativo da má vontade humana. Uma criança que nasce numa família miserável, em qualquer parte do mundo, não é inocente. Pelo contrário. É tão culpada que só pôde encarnar num ambiente assim degradado. Não é sem razão que seis de cada sete novos habitantes do globo vêm de países subdesenvolvidos.
Também a miséria e a fome têm, no Juízo Final, um efeito saneador. Ou servem para que os atingidos por elas possam remir uma culpa, caso cheguem ao reconhecimento de que a situação em que se encontram é fruto de sua própria atuação, ou agem como mais um mecanismo de limpeza no Juízo, ao livrar a Terra de espíritos profundamente decaídos, que nela só podem causar danos ao seu ambiente e a si próprios.
O argumento dos não-malthusianos para explicar a fome e a miséria são também bastante interessantes. Porém, assim como os dos malthusianos, não esclarecem as verdadeiras causas dessas desgraças.
Os não-malthusianos dizem que até agora o aumento da população no mundo esteve abaixo da produção de alimentos. O problema da fome seria, portanto, a má distribuição dos alimentos, ou, melhor dito, a má distribuição de renda nos países e no mundo, causa também da miséria crescente. Em suma, a miséria e a fome seriam males oriundos do sistema capitalista, que só permite a quem ganha dinheiro manter-se bem alimentado e desfrutar de uma vida digna. Alguns fatos ilustram essa situação em relação ao consumo de alimentos no mundo:
Esses dados mostram que os alimentos produzidos no mundo poderiam alimentar a população mundial, mas somente quem pode pagar por eles é que se alimenta adequadamente. (2) Como a concentração de renda é uma constante em todo o mundo (conforme demonstrado no tópico Economia) cada vez mais pessoas descem ao nível da pobreza absoluta, não dispondo mais dos meios para adquirir os alimentos, enquanto que os que já eram miseráveis permanecem nessa situação.
Essa é, segundo os não-malthusianos, a verdadeira causa da fome e da miséria no mundo. Um representante dessa linha de pensamento chegou a afirmar que “a subnutrição de massa só será um velho capítulo na história da humanidade a partir do momento em que os pobres tiverem condições de exigir e obter aquilo a que têm direito no conjunto da produção nacional e internacional.”
A busca de lucro a qualquer preço e a acentuada concentração de renda constatada em todo o mundo nas últimas décadas não são as causas reais da fome e da miséria no mundo, mas, ao contrário, assim como estes, são também efeitos retroativos da má vontade humana. São os frutos que têm de ser colhidos agora, depois de uma longa e persistente semeadura má. Se a concentração de renda em nível mundial, que cresce continuamente, faz crescer a fome e perpetua a miséria, então isso significa que ela é um dos mecanismos terrenamente visíveis para fazer retornar aos povos os efeitos de seus carmas coletivos. Os outros mecanismos são as guerras e os regimes políticos.
Tudo hoje é efeito retroativo. Os povos que tiveram de experimentar o comunismo nesse nosso século, por exemplo, não foram acaso vítimas inocentes das circunstâncias. Em outras vidas aquelas pessoas apoiaram concepções erradas sobre uma pretensa igualdade social e fomentaram o inconformismo em relação à isso. Agora, receberam os frutos de suas ações de outrora. Através da vivência amarga dentro de um regime político insano e tirânico, muitos puderam reconhecer o quanto de doentio existe na tentativa de forçar uma igualdade impossível entre os seres humanos, tão diferentes entre si em seus desenvolvimentos terrenais, anímicos e espirituais.
Com os males do regime capitalista não é diferente. Tudo hoje está torcido. A produção e comercialização de alimentos visa, única e exclusivamente, o lucro. Seja na definição da área plantada e do tipo de cultura desenvolvida (segundo perspectivas de “preço de mercado”) ou através de práticas empresariais repulsivas, como fazer galinhas ingerirem produtos químicos para tornar os ovos mais amarelos ou passar frutas através de raios X, para que as sementes morram e a concorrência não possa utilizá-las…
As tentativas de se entender e resolver os graves problemas humanos apenas com o intelecto, sem procurar conhecer suas causas mais profundas, redunda infalivelmente em fracasso e confusão. Uma amostra disso foi a chamada “Revolução Verde”, que granjeou para o seu idealizador, um agrônomo americano, o Prêmio Nobel da Paz de 1970.
A idéia dessa revolução era de que não há melhor remédio para a fome e a miséria do que o progresso. De acordo com esse conceito, fome e miséria seriam erradicadas dos países pobres desde que se adotassem técnicas de produção adequadas.
A base de tudo eram sementes selecionadas, produzidas em laboratório, também chamadas de “variedades de alto rendimento”. Sob o ponto de vista da produção, o resultado da utilização dessas sementes foram espetaculares. O México multiplicou por três suas colheitas de trigo em vinte anos. Os países asiáticos chegaram a acrescentar vinte milhões de toneladas anuais às suas safras de cereais (excluindo a China).
Com o passar do tempo, porém, começaram a surgir alguns problemas de produção relacionados a uma particularidade dessas sementes de laboratório. O especialista Ricardo Abramovay explica o que aconteceu:
“Sendo um produto da fabricação humana e da experiência de alguns anos de laboratório (e não dos milênios incorporados no processo de formação natural das sementes naturais), elas são bem menos resistentes a catástrofes naturais, pragas, insetos, etc.
A adaptação de uma espécie animal ou vegetal a um determinado meio ecológico supõe a vitória sobre uma série de inimigos. Essas vitórias vão enriquecendo o patrimônio genético dessa espécie e permitem que ela sobreviva no ambiente onde foi formada.
Com as sementes de laboratório ocorre exatamente o contrário: embora mais produtivas, elas não possuem as condições genéticas para enfrentar seus inimigos naturais. A variedade que consegue resistir a uma determinada velocidade dos ventos é, por exemplo, destruída por certos tipos de insetos. A que resiste a esses insetos sucumbe sob o efeito da temperatura local, e assim por diante. Em suma, a adoção em larga escala das variedades de alto rendimento representa um perigoso empobrecimento no patrimônio genético das espécies.”
Identificado corretamente o problema, os cientistas não tiveram dúvidas quanto à melhor solução a ser adotada: utilização maciça de adubos e defensivos químicos. A partir daí, tornou-se prática corrente envenenar o solo e as lavouras com produtos químicos. Em 1960, os Estados Unidos venderam 22,7 milhões de dólares em fertilizantes químicos; em 1972 esse volume de vendas já atingia 143,7 milhões de dólares. Em trinta anos, a produção de pesticidas nos Estados Unidos cresceu 13 mil vezes…
Os desequilíbrios e os acidentes com pesticidas e fertilizantes multiplicaram-se em todos os países. Estima-se que a manipulação de agrotóxicos mate atualmente uma pessoa no mundo a cada 105 minutos. No Brasil, a média é de 14 mortes por intoxicação todos os dias.
As pragas atacadas com agrotóxicos tampouco ficaram impassíveis. Não só cresceram em número, como se tornaram resistentes a vários desses venenos químicos. Em 1958, o agrônomo brasileiro Adilson Paschoal havia constatado que 40 das principais culturas brasileiras eram atacadas por 193 pragas. Em 1976, dezoito anos mais tarde, ele observou que o número de pragas havia aumentado para 593, e justamente nas lavouras que mais receberam pesticidas. Entre 1960 e 1980, a quantidade de agrotóxicos utilizados nas lavouras passou de 70 para 610 e, segundo ele, “a produtividade física das principais culturas se manteve estagnada ou em muito lento crescimento.”
Em 1987, o biólogo Felipe Brum, da Universidade de Minas Gerais, anunciava que dos 500 insetos considerados pragas na agricultura, 400 já eram resistentes a qualquer tipo de pesticida…
A crescente resistência das pragas aos agrotóxicos faz com que hoje sejam desenvolvidas substâncias cada vez mais poderosas, e também novos tipos de sementes, resistentes a esses produtos químicos.
Não é sem razão que duas das cinco maiores empresas do mundo comercializadoras de sementes são também companhias agroquímicas. No mundo todo existem hoje já 2,5 milhões de hectares de solo cultivados com plantas modificadas em laboratório… Atualmente desenvolve-se estudos visando a obtenção de variedades de algodão resistentes ao bronoxinil, uma toxina suspeita de afetar a saúde dos agricultores, enquanto que uma empresa química alemã desenvolveu plantas resistentes ao 2,4-D, um composto que comprovadamente causou câncer em lavradores. Já há variedades de milho, soja e algodão resistentes a herbicidas, e outras tantas resistentes a insetos. Há, inclusive, um tipo de tomate “longa vida”, que dura até três semanas fora da geladeira…
O ambientalista russo Alexei Yablokov demonstrou que alguns pesticidas, mesmo em concentrações extremamente baixas, podem causar mudanças de comportamento em animais. Segundo ele, um pesticida chamado “sevin”, utilizado numa concentração infinitesimal, pode mudar o comportamento de grandes cardumes de peixe, tornando seus movimentos desordenados.
Os poderosos herbicidas à base de “Picloram” permanecem no solo durante anos, e vão eliminando a vida nos rios e lagos para onde são carregados. Além de serem cancerígenos, suspeita-se que possam provocar deformações genéticas. Até ser definitivamente proibido, o conhecido DDT causou danos em todos os lugares onde foi utilizado. Abaixo, dois exemplos significativos:
De acordo com o vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, recentes estudos demonstraram que o uso difundido de nitrogênio como fertilizante pode aumentar a falta de oxigênio e fazer com que o solo produza metano e óxido nitroso em excesso, gases esses que já respondem por 20% das causas do aquecimento global. Os fertilizantes também interferem com a diversidade genética, pois ao compensarem diferenças em meio ambientes locais e tipos de solo, desestimulam a diversidade entre as variedades de cultivo.
Um tratado poderia ser escrito sobre os efeitos danosos do ser humano nas práticas de cultivo dos alimentos que consome. O ser humano parece um Midas ao contrário: onde ele toca transforma ouro puro em metal enferrujado.
Qual a causa desse fracasso retumbante? Como sempre, a total ignorância do ser humano em relação à natureza e suas Leis, bem como a funesta suposição de poder resolver tudo com as limitadas capacitações do seu raciocínio. Nunca o intelecto será capaz de reconstruir a ponte que o próprio ser humano destruiu, a qual o ligava outrora à natureza com todos os seus entes.
A sistemática agressão humana à natureza é decorrência direta desse desligamento voluntário, que vem já de milênios. Poderá ainda causar surpresa que agora, no ajuste final de contas, em várias regiões da Terra, as colheitas sejam destruídas por secas infindáveis e chuvas torrenciais? Que as moradias de tantos seres humanos desapareçam sob furacões, tempestades de granizo, desmoronamentos e erupções vulcânicas?
Miséria e fome, em vários graus, aumentam em toda a Terra. Da subnutrição crônica à morte por inanição, da queda do padrão de vida à falta de moradia e vestuário, tudo fruto da atuação humana errada na Criação. Por isso, a cura dessas mazelas só virá quando o ser humano reaprender a viver de maneira certa. Isso acontecerá forçosamente após a consumação do Juízo Final. Assim como já fora no princípio, (3) a Terra voltará a ser um lugar paradisíaco. Não por obra do ser humano corrompido, mas por intervenção do Criador.
Vamos agora, numa rápida amostragem, verificar o que já produziram a fome e a miséria no mundo durante o Século do Juízo:
Essas são algumas das “ondas de fome” que o mundo se acostumou a acompanhar de tempos em tempos. Todavia a fome segue matando de maneira endêmica em muitas regiões do globo. De acordo com dados da ONU, 20 milhões de crianças morrem de fome anualmente em todo o mundo; cerca de 37 mil crianças com menos de 5 anos morrem de fome diariamente.
Em 1996, o jornal The Washington Post, citando fontes da CIA, noticiou a ocorrência de casos de canibalismo na Coréia do Norte, perpetrados por camponeses desesperados de fome, enquanto que na capital, Pyongyang, eram vistas pessoas buscando ervas e raízes nos parques públicos para cozinhar e comer. Em fins daquele ano, o racionamento de alimentos atingia 90% da população, com rações diárias de 200 gramas, o equivalente a 600 calorias.
Em fevereiro de 1997, os norte-coreanos dispunham em média de 100 gramas de arroz por dia, e a revista The Economist noticiava que cães, gatos e pombos praticamente haviam desaparecido das ruas do país, tendo sido devorados, e que mulheres estariam comendo a própria placenta após dar à luz…
Em abril, o governo começou a adiar os enterros a fim de prevenir atos da canibalismo. Em julho, a Unicef informava que cerca de 800 mil crianças estavam a caminho da morte, vítimas da desnutrição; algumas já não tinham forças sequer para comer as rações enviadas pelos países desenvolvidos. Em agosto, cerca de 80% da população do país (19 milhões de pessoas) era constituída de esfaimados. Em setembro, a rede de notícias CNN informava que possivelmente dois milhões de norte-coreanos já haviam morrido de fome. Em outubro, um jornal de Hong Kong revelou que várias pessoas foram executadas sob a acusação de vender carne humana no mercado negro, e um oficial do exército que havia fugido do país declarou que alguns pais estavam matando seus próprios filhos para comê-los; naquele mês, os enterros não estavam acontecendo porque os parentes não tinham forças para fazê-los…
Em janeiro de 1998, a ração diária per capita caiu para 58 gramas, e em fevereiro ela foi reduzida ainda mais. A Cruz Vermelha Internacional informou que cerca de 10 mil crianças morriam de fome todos os meses, e que mais de 5 milhões de norte-coreanos estavam à beira da morte por inanição.
“O maior assassino do mundo e a maior causa de doenças e sofrimento ao redor do golfo é… a extrema pobreza.” Esta frase consta do Relatório Mundial da Saúde de 1995, editado pela OMS. Confirmando numericamente esses dados, a ONU informou, em 1996, que 60% da população mundial vivia com uma renda de até dois dólares por dia, das quais cerca de 1,3 bilhão de pessoas sobreviviam com até um dólar por dia…
Durante a Conferência Mundial de Alimentação realizada em Roma, em novembro de 1996, o órgão da ONU para agricultura e alimentação (FAO) divulgou um relatório sobre o número estimado de famintos no mundo: 800 milhões de pessoas apenas nos países em desenvolvimento – 215 milhões só na África subsaariana, correspondendo a 43% da população daquela região (4) – e mais 200 milhões de crianças com menos de cinco anos sofrendo deficiências agudas por falta de proteínas e calorias.
Números espantosos, que, no entanto, são considerados incorretos pelo professor Peter Suedberg, da Universidade de Estocolmo, convencido de que na realidade eles são muito maiores. E o espanto fica ainda maior se juntarmos a isso uma estatística da OIT, informando que no início da década de 90 havia, apenas nas grandes cidades, cerca de 400 milhões de pessoas vivendo na pobreza, correspondendo a um terço da população urbana mundial. Segundo o Órgão, mantida a mesma tendência de crescimento da pobreza, esse número se elevaria a um bilhão até o final do século…
Várias organizações internacionais tentam já há tempos minorar o problema da fome e da miséria, através de campanhas. A FAO lançou a sua Campanha de Combate à Fome em 1960, com uma duração prevista de cinco anos.
No Brasil, em 1993, surgiu a “Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida”, lançada pelo sociólogo Herbert de Souza. Essa campanha tomou forma depois que uma enquete do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas apresentou um estudo indicando que 9,2 milhões de famílias passavam fome no Brasil.
De acordo com dados do Banco Mundial, o Brasil é considerado um país de renda média alta. Pode-se, assim, imaginar a situação de miséria e fome nos 91 países que apresentam renda per capita inferior à brasileira. No nosso país a disparidade da concentração de renda agrava ainda mais a situação. Na região mais pobre, no Nordeste, 51,2% da população situa-se abaixo da linha de pobreza. Em 1980, 10,6% dos menores de 17 anos do Nordeste viviam em famílias cujos chefes ganhavam menos de meio salário mínimo por mês; em 1991 esse número havia subido para 26,4%.
Nos países desenvolvidos tampouco a miséria foi erradicada, ou sequer mantida estabilizada. Nos Estados Unidos, que detêm há décadas o maior PIB do mundo, 11,4% da população era constituída de pobres em 1978; em 1989 esse percentual já era de 12,8%, e em 1992 subiu para 14,5%. Segundo o historiador Eric Hobsbawm, “em qualquer noite de 1993 em Nova York, 23 mil homens e mulheres dormiam na rua ou em abrigos públicos.”
No livro O Futuro do Capitalismo, Lester C. Thurow informa que em 1994 havia um grupo flutuante estimado em 600 mil pessoas que dormiam ao relento em qualquer noite nos Estados Unidos. De acordo com o sétimo informe anual sobre a pobreza mundial, divulgado em outubro de 1996 pela organização americana Pão para o Mundo, 25% das crianças americanas menores de 12 anos (13,6 milhões) passavam fome ou corriam risco de passar fome. E segundo ainda Lester C. Thurow, no ano de 1996, 32% de todos os homens entre 25 e 34 anos ganhavam menos que a quantia necessária para manter uma família de quatro pessoas acima da linha da pobreza.
Na Europa, os pobres já constituem 15% da população, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Na Alemanha, por exemplo, havia cerca de 850 mil desabrigados em 1995, e o número dos que procuravam ajuda oficial era 10% maior em relação ao ano anterior. Os números oficiais do governo alemão mencionavam 50 mil crianças vivendo nas ruas das grandes cidades; de 1981 a 1994, o número de crianças abaixo de 7 anos que precisavam de ajuda previdenciária quadruplicou, chegando a 571 mil em 1994.
Na Inglaterra, estima-se que haja entre 400 mil e 2 milhões de “sem-teto”, designação essa que se imaginava até a pouco restrita aos países do terceiro mundo. Só em Londres, oito mil pessoas dormem nas ruas todas as noites. Em todo o país, o número de desabrigados e de pessoas em abrigos temporários é cinco vezes maior do que no início da década passada.
Na França, em 1994, havia um total estimado entre 600 a 800 mil sem-teto. Em 1995, o número de pessoas que receberam a chamada “renda mínima de inserção”, um benefício concedido pelo governo para quem está há tanto tempo desempregado que perdeu o direito ao seguro-desemprego, mais que dobrou desde a sua criação, em 1988. O presidente da União Nacional dos Organismos Privados Sociais na França, René Lenoir, declarou:
“Hoje a nossa sociedade assumiu a forma de uma ampulheta: no alto existe uma classe abastada de proprietários e pessoas que vivem, em geral, de renda; embaixo, aumenta o número de pobres.”
Na América do Sul, a Argentina se destaca no crescimento da pobreza. Em outubro de 1996, 26,7% da população da Grande Buenos Aires estava vivendo abaixo da linha da pobreza, um aumento de 66% do número de pobres em dois anos…
Na Rússia, após a desintegração da União Soviética, a fome fez a população vender tudo o que lhe restava. “Nas escadarias do metrô ou estações ferroviárias, vendem-se latas de óleo, pães feitos em casa ou o corpo da filha mais nova.” (O Estado de S. Paulo – 14.5.95) A produção caiu nesse país, de 1992 a 1995, mais do que em toda a Grande Depressão de 1929… A OIT estimava que havia na Rússia, em 1995, oito milhões de desempregados, enquanto que os que mantinham um emprego ganhavam salários irrisórios. Uma professora de nível médio, por exemplo, tinha um rendimento de cerca de 30 dólares mensais.
Em maio de 1996, descobriu-se que estudantes da Faculdade de Agricultura da cidade de Ussuriysk estavam roubando cobras e rãs do instituto para se alimentar, já que eram incapazes de fazê-lo com a ajuda de custo de 15 dólares mensais… Em outubro, o vice-primeiro-ministro Viktor Ilyushin, encarregado da política social, revelou que nada menos que um quarto da população da Rússia estava vivendo abaixo do nível mínimo de subsistência. Qualificando a situação social de “catastrófica”, ele acrescentou que o nível de renda dos russos havia caído 40% nos últimos cinco anos… Em março de 1997, 80% da população russa estava vivendo na pobreza, segundo estimativa do ex-líder soviético Mikhail Gorbatchev. Em abril daquele ano, cerca de 10% da população (14 milhões de pessoas) era constituída de mendigos e prostitutas, conforme estimativa do Instituto para Problemas Sociais e Econômicos da Academia de Ciências.
De acordo com uma matéria jornalística, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social, realizada na Dinamarca em março de 1995, com representantes de 150 países, “não apresentou nenhuma proposta original ou revolucionária de erradicação da pobreza.” Aquela fora a 3ª megaconferência da ONU desde a ECO-92, no Rio de Janeiro, e de acordo com a reportagem, “como das duas vezes anteriores, não houve respostas prontas sobre o combate à pobreza. (…) O ressurgimento de desabrigados e mendigos é parte do forte crescimento de desigualdade social e econômica desta nova era, mesmo nos países ricos, cujo padrão de distribuição de riquezas entre a população não era considerado particularmente injusto.”
Este, em largos traços, o retrato da fome e da miséria no mundo em nossa época, o Século do Juízo. Um sofrimento horrível, que atinge diariamente milhões e milhões de pessoas e que, no entanto, foi acarretado por elas mesmas. Esses acontecimentos terríveis, assim como tantos outros, deveriam ser encarados pela parte da humanidade ainda não atingida por eles como avisos e alertas gravíssimos, para que volte, ainda em tempo, a viver de acordo com as imutáveis e inflexíveis Leis da Criação.